Como em muitas localidades, se houvesse logo na entrada do Conjunto Parque dos Faróis uma placa com os dizeres: “Seja bem-vindo”, a mensage...
Como em muitas localidades, se houvesse logo na entrada do Conjunto Parque dos Faróis uma placa com os dizeres: “Seja bem-vindo”, a mensagem poderia ser trocada pelos dizeres: “Você não deve temer aquele que se distancia das pessoas de bem para ficar entre os criminosos, mas sim aquele que escolhe fazer parte da criminalidade e insiste em conviver entre nós”. A frase, dita por um morador do Conjunto situado em Nossa Senhora do Socorro, território da zona metropolitana da capital, denuncia a forte onda de violência que habita a região, ilustrando o drama da população acometida, que já não suporta mais ver sua vida, praticamente, tomada pelo domínio dos marginais. São histórias que se repetem. Cada nova família chega à localidade com a esperança de começar uma vida nova. Não demora muito para os sonhos darem lugar a verdadeiros pesadelos, vivendo em uma terra dominada pela angústia, elemento presente no leito de cada família, tramas distintas com um aspecto em comum, forjadas pelos graves problemas enfrentados por quem habita o Conjunto. Esse foi mais ou menos o enredo da vida da senhora Gertrudes da Silva, idosa de 68 anos. Viúva de um técnico da Petrobras assistiu parte dos seus sonhos ruírem com a morte prematura do marido. A compra de um imóvel no Parque dos Faróis, mais do que um recomeço, representava a chance de deixar para trás antigos problemas.
Novas amizades, vizinhos diferentes, os filhos em outros colégios e por fim, uma tragédia que se instalou na família. O último elemento, obviamente, não fazia parte da lista de planos. Dona Gertrudes não podia imaginar que teria de conviver com um mal até pior que o falecimento do marido, em forma de uma substância química conhecida como droga, segundo ela, mais fácil de ser encontrada na localidade do que pão. Os pontos de venda seriam estrategicamente espalhados pelas vias e a comercialização varia desde maconha, crack e até cocaína.
“Aqui tem muita gente boa, mas quem não presta também sobra. Meu filho José Henrique era um bom menino, mas as amizades e promessas de uma vida fácil o levaram para o mau caminho e o destino dessa gente é um só, a morte”, diz a mãe, mostrando muita desolação, apesar do crime ter completado o terceiro aniversário. “Ele será sempre o meu menino, meu filho mais velho. Até hoje não sei bem o que aconteceu, se foi dívida de droga, a polícia ou rixa. Até rumores de assalto eu ouvi, mas acho pouco provável, ele tinha mesmo ligação com drogas”, admite a mãe.
Dona Gertrudes confessa que não há um só dia sequer em que deixe de pensar no filho e expõe uma dura realidade, sente-se culpada por sua morte. Embora creia que cada homem ou mulher é inteiramente responsável por seu próprio destino, pensa também que caso tratasse o filho com “rédeas mais curtas”, sem o deixar seduzir pelos falsos atrativos do mundo, a fatalidade poderia ser evitada.
“Às vezes penso que tem gente que nasce mesmo para o crime, mas talvez seja preconceito de minha parte, afinal todos têm direito a uma segunda chance. Posso estar falando besteira por ser mãe dele, mas ele podia ter seguido outro caminho, era inteligente, tinha notas boas na escola. Não existe doença pior do que droga”, desabafa Gertrudes da Silva.
Fonte: correiodesergipe
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